Especial Matrix - Trilogia
Matrix Devolutions: Quero o meu dinheiro de volta

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Matrix Devolutions: Quero o meu dinheiro de volta!
 

A encrenca se resume a um problema matemático: os Wachowski levam dois filmes para dizer o que caberia em um só. Dois ingressos caríssimos, aliás. Peça o seu dinheiro de volta aos irmãos-maravilha! Matrix Devolutions já!

Faça as contas. Reloaded tem 138 minutos. Revolutions, 129. O episódio intermediário da trilogia, legítimo filme de Kung-Fu, coloca os personagens para se estapear de dez em dez minutos. Além disso, cria inúmeros coadjuvantes sem brilho e se deslumbra com a estrada construída especialmente para a falada perseguição de carros. Ou seja, dá pra talhar uma horinha, só de gordura, excesso. 

A regra é a mesma para o capítulo final. Elimine a dispensável participação de Merovíngio (que termina num acordo bélico mais que banal), corte todo o enfoque melodramático dispensado ao personagem Kid, diminua a batalha no hangar de Zion e resuma as perguntas intermináveis de Neo ao essencial. Taí outros 60 minutos lipoaspirados. Assim, o caldo mesmo, o fino de dois filmes caberia numa única película de duas horas.

Especulação à parte, o caso é que Matrix Revolutions cansa. Quando mais se esperam as respostas, Neo surge na tela fazendo as mesmas perguntas que Oráculo insiste em retrucar com mais questionamentos. O personagem sai, como sempre, mais desorientado do que quando entrou. Tudo bem, trata-se de "humanizar" o super-herói. Mas se o artifício era instigante em 1999, hoje começa a se tornar maçante - e redundante, do alto da avalanche mercadológica e da montanha de pôsteres holográficos.

Esse é outro problema do filme. Há uma tal saturação de Matrix na mídia que o espectador periga alimentar uma mortífera INDIFERENÇA em relação ao resultado final. Como os Wachowski não inserem nenhum elemento novo - e relevante - à trama, o público assiste passivamente ao desfecho. O duelo derradeiro entre Neo e Smith não é melhor do que a "luta dos 100 agentes" incensada em Reloaded. Pior. Se a plasticidade era a grande virtude do segundo filme, a estética de Revolutions, escura e visivelmente artificial, deixa a desejar no seu momento climático. Você percebe que uma idéia se esgotou quando o soco dado por Neo em bullet-time mais parece paródia do que inovação de fato.

Os diretores também não cooperam. Não dão um final digno aos outros protagonistas, Morpheus e Trinity. Pelo contrário, vergonhosamente, valorizam coadjuvantes escolhidos na última hora (e não venham me falar da importância desses coadjuvantes no videogame, ou em Animatrix... estamos tentando nos concentrar aqui!). Seria até interessante assistir à luta de Seraph contra os Smith, num momento crítico de proteção à Oráculo. Mas até isso é negligenciado em nome de momentos menos valorosos.

A defesa dos humanos em Zion é bem filmada, o balé das Sentinelas assusta. Mas quando começa aquela música épica básica, quando os mártires dizem as suas últimas frases-de-efeito, percebe-se que outro elemento se esvai: a magia. Obedecendo às fórmulas consagradas, iguais às de qualquer filme-catástrofe, a trilogia chega ao fim sem identidade.

Para não dizer que tudo é equivocado, duas cenas se destacam. A primeira, quando os peitos de Monica Belucci surgem imponentes num decote que apenas a matrix poderia conceber. A segunda, quando a nave Logos, pilotada por Trinity, sobe além das nuvens da cidade das máquinas. Um sol inesperado ilumina o rosto castigado da heroína, como num intervalo de segundos numa luta que não pode ser vencida. Bem bonito.

Pena que as duas sequências - que até valem o ingresso, vai - sejam ofuscadas pela porcaria repetitiva e auto-indulgente que segue.

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